Canto da companheira

Sairei pela manhã clara em busca do pensamento do mundo.

Irei até as searas e às trepidantes fábricas
e verei o operário mover êmbolos
e turbinas, hélices, tratores.
Entrarei nos barcos, descerei às minas,
estarei nas mansões e nos cortiços
nas igrejas e nas tascas
pois nenhum lugar me há de ser vedado.
Escutarei as ânsias do povo, as pedras da rua
e verei as lutas entre o velho e o novo.
Escreverei então
com suor e sangue o húmus da terra
o que houver captado
assim unida, colada ao fundo da vida.

Só voltarei pelo fim da tarde
com ligeiros passos
para pôr, antes da noite,
flores vivas no grande jarro.
Cortarei rosas no jardim em tua honra
rosas e dálias para te saudarem.
Voltarei com ligeiros passos
e quando chegares trazendo teu dia
áspero, participante, igual ao meu
e cachos de begônias rubras pra mim
já estarão soltos meus cabelos
e acesa a lâmpada.

in "A dríade e os dardos"

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